sexta-feira, 24 de julho de 2009

Alvorada

(24/07/09)

É cedo. Muito cedo. Convido Xeron, companheira e Spitz Alemã, para ver o dia nascendo na praia, contemplar o nascer da manhã.
Ainda é noite, uma noite deliciosa de inverno em Aracaju. Pé na estrada, rumo à praia, duas centenas de metros, quando muito, nem isso.
Rua deserta, luz da rua, céu sem lua. Silêncio quase absoluto. Apenas ruído de fundo: Xeron arfeja, quero-queros em rebuliço.
Deserto na Terra, frenesi celeste: Júpiter mais a oeste, Marte e Vênus à frente, com Orion regido por Rigel, Capela, Sirius e é claro Aldebaran. Acotovelavam-se em um céu quase que inteiramente despido, despido de nuvens, despido da chuva, despido da luz de Tupã.
Brisa fresca, morna e envolvente. Refresca, aquece, enebria. Desperta, acolhe, consola. Na pele, nos pelos e ouvidos. Onde se sente. Onde jamais fora sentido.
De repente o ronco surdo, penetrante, grave, forte, retumbante. Mar que canta com garganta de veludo, monossilábico, polifônico, seu sussurro plangente, constante, eterno e indiferente à vida efêmera de toda a gente.
Pouco a pouco, tinge o céu de âmbar e uma espécie de verde escuro, o prenúncio do dia que se aproxima, inexorável, certo, seguro.
Mar de areia, doce e fina, fria ao toque, pouco firme, diluída pela água do oceano em maré alta. O ruído se avoluma. No ar, cheiro água, sal e espuma. Vez por outra uma onda desgarrada, lava os pés em enxurrada bem mais quente que o ar, enche o corpo de energia, faz a pele toda vibrar.
O âmbar vira laranja, o verde vira azul, show de cores e nuances, coloridas a crayon. Estrela são engolidas na luz que já domina, das mais fracas às mais fortes. Já não vejo Orion. Some uma, depois outra, Sirus, Rigel, Aldebaran. Some Marte, resta só o brilho fraco da famosa Estrela D'alva, já cantada em prosa e verso, deusa do amor e da beleza, a rainha do universo, Vênus, o planeta feminino.
Ela e o sol, só dois astros restam lá no firmamento.
Bem ai, neste momento, dá vontade de alguém, companhia feminina, eu o sol e ela Vênus, vendo outro alvorecer, vendo a noite em metamorfose, vendo o claro e o escuro, vendo o mundo em cinza-chumbo, em marrom, em verde-musgo, em azul-alaranjado, em amarelo e dourado. Compartilhar cada instante, as sensações e pensamentos. Ou então só o silêncio.
Porém cada instante que passa revela o paradoxo, mostra como desejos podem ser só utopias. O que faz o sol ser tão forte também o transforma na pior das companhias: feito para ter luz própria, feito pra ter brilho farto, fulgir mais do que tudo, foi feito pra brilhar sozinho.
Logo logo, dia claro, sol brilhando com força, bem acima do horizonte. Certamente é o fim da alvorada. Não há nem sinal de estrelas, de Júpiter, de Marte, de nada. O curto romance com Vênus agora é coisa do passado. E lá segue ele, no céu, brilhando por mais outro dia , imponente, auto-suficiente, sozinho e solitário.
Otário...

Um comentário:

Milene Reis disse...

Caraca, show! Amei!!!
Riqueza de detalhes tao perfeitas que consegui ver o lugar. Que talento, brou, parabens!!!
Bjos