sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Encontro

(10/11/2009)

Em meio ao vazio da noite
Orion e centauro no ar
Talvez fosse pura magia
Sozinho nao sei explicar
Como ja' nao hovesse distancia
Australia, Brasil, BH
A Terra, o oceano, um instante
Ha' pouco eu fui te encontrar

Almas

(11/11/09)

Corpos se tocaram
Mentes se encontraram
Almas se fundiram

O tempo passa
O corpo cansa
A mente falha
A alma, porem, eterna
Ainda unida, unica
Ontem, hoje, sempre
Invisivel
Resoluta
Em nos dois, Indivisivel

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vivendo em um filme

(16/11/09)

(16/11/09)

Em alguns momentos pareco estar vivendo em um filme,
Otima direcao
Perfeita fotografia, e
Sobretudo, excelente trilha sonora.

Sinto que posso chegar ao extase
E ali permanecer pelo resto da existencia
Sinto assim de relance
Bem, ali, ao alcance das maos
A alguns centimetros apenas
Nao aqui neste mundo
Mas em um universo paralelo
Inatingivel e intangivel
Mas por um momento real e visivel
Logo ali
O lugar onde reside a felicidade eterna
Onde nao eh preciso mais ninguem
Onde se eh completo, repleto e sencivel
Cada passo, cada respirar, cada pulsacao
Fonte de prazer inesgotavel
Inalienavel, indestrutivel.

Mas dura soh um instante.
Um efemero momento
E sou tragado desse vazio profundo
Delicioso, eh verdade
De volta a realidade,
De volta ao mundo.

Porem resta-me a certeza:
Em alguns momentos pareco estar vivendo em um filme...


PS: ta sem acentos, sem revisao e sem um monte de coisas, mas vai assim mesmo

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Altas horas

(29/09/09)

Madrugada.
Insonia
Velhos fantasmas
Atormentado
Vira de bruços, de costas, de lado
Coração dispara
Cabeça não para
Horas se vão
Horas em vão
Desilusão
Silêncio e lágrimas

Na luz da alvorada
Procura a ferida
Acha só mais uma noite mal dormida


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Voando alto

(18/09/09)

Se horas voam, voemos com elas
Pairando no horizonte
Sobre o mar, rumo ao nascente
Piruetas ascendentes
Peito cheio de alegria
Ar cortante que desata
Qualquer nó pela garganta
Da saudade à euforia
Degustando o momento
Um só passo a cada dia

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Relacionamentos: Fases e Números (poetrix)

(11/09/09)

A Paixão, meia-nove.
O Carinho, nove-nove.
A Convivência, nove-meia.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Bolhas de sabão // Pós-monição (Duplix)

(02/09/09)

Nas enormes bolhas de sabão // Bolas de cristal, pitoniso
Explodem recordações coloridas // Reflexos do paraíso
De uma Infância bem vivida!...// Plict, ploct, sorriso

Malu Novo & Clovis Reis


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Até que a morte os separe (poetrix)

(02/09/09)

Se era eu o homem da tua vida
Porque não morreste,
Querida?


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Teleguiado (poetrix)

(31/08/09)

Ausência,
Duas metades
Saudades, insanidades


Fugaz e inusitado (poetrix)

(31/08/09)

Estranha a mente!!!
Estranhamente
Uma estranha à mente.




Quer saber o que é um poetrix? Clique aqui.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Versos em luz

(21/08/09)

Facho de luz que refrata,
Encontra um punhado de prata
Congela o instante passado

Pequeno ardil de memória
Registra o relance da história
Sem um início, também sem um fim
Talvez pedaços de almas
Prisioneiras do verde, do azul e carmim

Entes queridos, datas festivas
Sonhos em papel
Que o tempo modifica, amarela, dilacera
Que hoje, mesmo inerte
Comovem e fazem chorar

Deixados à posteridade
Resquícios de amor e saudade
Daquilo que nunca se foi, e ainda para sempre será
Tudo que um dia já foi,
Se foi,
Certamente jamais tornará


domingo, 16 de agosto de 2009

O passado e o futuro

(16/08/09)

Tudo que já foi
Atos, fatos e retratos
Bom ou ruim, certo ou errado
Chamam isso de passado

Tudo que virá
Onde moram os sonhos
Os desejos e as promessas
A ânsia do bom augúrio
Chamam-no de futuro

Nesse ínterim, efêmero momento
Ou simplesmente presente

Talvez seja apenas isso a vida:
Retalhos de lembranças
Costurados com esperanças


sábado, 1 de agosto de 2009

Para sempre

(01/08/09)

Você.
Sua companhia
Cada instante
Gravado eternamente
Incrusta a jóia da memória
Diamante ou pedra mais rara
Decorando sonhos, povoando a mente
Recordado
Saboreado
Novamente desfrutado
Hoje, amanhã
Sim, em mim viverá para sempre

E quiçá chegará o momento
Transformação
Eu, não mais embrião
E “sempre”, em um passe de magia
De repente
Poderá ser todo dia


Diário de um extraterrestre

(01/08/09)


Pois bem, nova missão: estudar os hábitos de acasalamento da espécie homo sapiens no planeta Terra.
Incorporado em novo corpo. Unidade água-carbono. Deixa eu ver no manual: Ok, pequeno apêndice pendendo entre as pernas, mais embaixo invólucro de tecido epitelial contendo duas gônadas. Certo, gênero masculino. Ai, droga, serei o responsável pela iniciativa do acasalamento.
Destino: planeta Terra, coordenadas geográficas terrestres com Latitude 10° 54' 40'' S, Longitude 37° 04' 18'' W e Altitude 4 metros acima do nível médio dos mares. Hora local 22:16. Então vamos escolher o local de contato. Algo genericamente designado como “balada”. Então vamos lá. Materialização do veículo de propulsão à combustível fóssil.
Ok, meus sensores indicam que o local fica logo ali. Primeira a direita. Logo vejo uma unidade água-carbono acenando com um pequeno pedaço de fibras de carbono conhecido como pano ou flanela. Talvez esteja me desejando boas vindas. Não, há mais dois ou três agitando freneticamente seus respectivos pedaços de pano, surrados e sujos. Resolvo parar próximo àquele que possui a menor quantidade de dentes. Ele sorri com sua gengiva rosada, dezoito dente acinzentados e diz algo que o meu tradutor universal entende como sendo português: “Tá na mão ai, patrão”. Meu tradutor universal trava, já que a frase não faz o menor sentido. Maldita Microsoft!!! Aceno afirmativamente com a cabeça, apesar de não ter entendido nada.
Consulto novamente o manual online: comprar a entrada. Ok, identifico o local designado como guichê. Existe uma pequena fila no local. Entro na fila atrás de uma unidade água-carbono que parece ser do sexo feminino. À sua frente uma unidade água-carbono do sexo masculino discute com a moça do caixa. Palavras incompreensíveis: cartão de crédito, erro, não funciona, cartão bloqueado, falta de crédito, campos eletromagnéticos anômalos interferindo na transação. Algo intitulado “barraco” começa a ocorrer. Duas unidades carbono vestindo preto aparecem e o “barraco” se desfaz.
Consigo entrar no recinto. Vejo que todas as pessoas estão ingerindo líquidos à base de água, açúcares e etanol. Resolvo ingerir tal beberagem. Alguns cálculos mentais e verifico a vantagem financeira em comprar uma garrafa de uma substância líquida e amarronzada, que as pessoas insistem em dizer que é vermelho: é Red pra cá, Red pra lá. Ok. Vou de Red também. A moça oferece um outro Red que vem em uma lata azul para acompanhar. Encho o copo com o Red marrom e com o Red azul, mais uma porção de água, em estado sólido. Complicado! Espero ter acertado as proporções.
Sem perda de tempo me concentro no objetivo primário da missão: estudar hábitos de acasalamento. Me aproximo de uma unidade água-carbono que, a julgar pelo volume da glândula mamária, tamanho dos quadris, pintura tribal nos olhos e lábios e pelas demonstrações de equilibrismo sobre os saltos dos sapatos exageradamente altos, trata-se de um representante do sexo feminino. Tento estabelecer uma conversação amigável, dizendo que sou do planeta Delta Ômega 33, mas não consigo ir muito além disso. A moça me olha com tremenda cara de desprezo, vira as costas e vai embora. Aliás são duas coisas que realmente me fogem à compreensão: qual é a técnica apropriada para aproximação das unidades água-carbono do tipo mulher e porque os planetas são designados por letras gregas, já que nenhum grego nunca foi ao espaço e não há alienígenas gregos. Eu não sei nem o que é um grego...
Resolvo mudar a abordagem e observar o comportamento de outros casais. Logo ali, uma moça passa delicada e vagarosamente o dedo sobre o peito de um rapaz, enquanto conversa com ele. Pode ser isso: o estabelecimento de contato manual com as glândulas mamárias é o indicativo da intenção de acasalar.
Abordo uma outra moça de glândulas mamárias avantajadas. Digo um rápido “oi” e toco em seu bojo. Recebo um golpe certeiro na protuberância nasal. Ainda desorientado recebo novo golpe que causa uma sensação extremamente desconfortável nas gônadas e abdome, que me obriga a sentar no chão, levar as mão entre as pernas e emitir grunhidos estranhos. Há algo errado com a minha técnica, já que nenhum outro macho da especie assumiu tal comportamento.
Resolvo observar mais um pouco a dinâmica comportamental antes de uma nova investida, já que a última se mostrou bastante dolorosa. Alguns machos observam as fêmeas à distância. Estas fingem não estar olhando para eles. De repente, sem nenhum estímulo aparente o macho irrompe em direção a uma fêmea específica. Trocam um número não determinado de palavras, dão algumas risadas. Separam-se e o ritual recomeça. Será que já acasalaram? Não, acho que não. O manual citava, de forma específica, uma troca de fluídos.
Algumas mulheres exibem parcialmente suas glândulas mamárias, outras grande parte de suas pernas. Umas ajeitam freneticamente suas protuberâncias capilares inseridas no alto da cabeça. Outras sacolejam o corpo ao ritmo da batida sonora com 100 decibéis de intensidade que sai de caixas pretas dependuradas nas paredes. Vez por outra estas mesmas moças olham ao redor para certificarem-se que sua dança está sendo notada. Mas, via de regra, apesar de interessadas, fingem ignorar qualquer macho da espécie.
Os rapazes permanecem afastados, todos com seus pequenos vasos cheios de diversas beberragens etílicas à mão, recostados na parede ou em pequenos grupos.
Não compreendo a lógica do ritual. Minha cabeça está rodando. Tomo o último gole da bebida marrom da garrafa. Meu estômago rejeita a beberagem e devolve-a em um grande jato líquido. Já vi outros humanos fazerem isso nestas “baladas” de acasalamento. Quando começo a pensar que estou no caminho certo, dois humanos de porte avantajado e vestidos de preto convidam-me a deixar o recinto. Não compreendo o porquê, já que estava fazendo progressos, mas percebendo minha relutância, um dos indivíduos me estimula com um movimento rápido que liga uma campainha em meus ouvidos.
Já do lado de fora, procuro minha unidade de propulsão á combustível fóssil. Realizo a ignição e inicio meu deslocamento. Sem qualquer motivo aparente, uma unidade aço-concreto, apelidada de poste, aparece desgovernada em frente ao meu veículo de propulsão à combustível fóssil. Tento desviar, mas o poste reage mais rapidamente. Colisão iminente!!! Choque. Pessoas se aglomeram em torno do local, mas ficam apenas à observar. De repente aparecem luzes vermelhas e azuis. Unidades água-carbono uniformizadas, auto-intituladas “polícia” me oferecem um canudo anexado a um aparelho para que seja soprado. Parece ser algo que irá eliminar o etanol do meu corpo. Porém muito antes que o etanol seja totalmente drenado as unidades policiais removem o canudo da minha boca e começam a gritar palavras desconexas: Dirigir embriagado, contravenção, crime e PRISÃO!!! Opa, prisão não! Não posso ser capturado.
Abortar, abortar, teletransporte, teletransporte agora!!!
Mais uma missão fracassada. Espero não haver outras. Pelo menos não na Terra
Oh planetinha difícil...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Alvorada

(24/07/09)

É cedo. Muito cedo. Convido Xeron, companheira e Spitz Alemã, para ver o dia nascendo na praia, contemplar o nascer da manhã.
Ainda é noite, uma noite deliciosa de inverno em Aracaju. Pé na estrada, rumo à praia, duas centenas de metros, quando muito, nem isso.
Rua deserta, luz da rua, céu sem lua. Silêncio quase absoluto. Apenas ruído de fundo: Xeron arfeja, quero-queros em rebuliço.
Deserto na Terra, frenesi celeste: Júpiter mais a oeste, Marte e Vênus à frente, com Orion regido por Rigel, Capela, Sirius e é claro Aldebaran. Acotovelavam-se em um céu quase que inteiramente despido, despido de nuvens, despido da chuva, despido da luz de Tupã.
Brisa fresca, morna e envolvente. Refresca, aquece, enebria. Desperta, acolhe, consola. Na pele, nos pelos e ouvidos. Onde se sente. Onde jamais fora sentido.
De repente o ronco surdo, penetrante, grave, forte, retumbante. Mar que canta com garganta de veludo, monossilábico, polifônico, seu sussurro plangente, constante, eterno e indiferente à vida efêmera de toda a gente.
Pouco a pouco, tinge o céu de âmbar e uma espécie de verde escuro, o prenúncio do dia que se aproxima, inexorável, certo, seguro.
Mar de areia, doce e fina, fria ao toque, pouco firme, diluída pela água do oceano em maré alta. O ruído se avoluma. No ar, cheiro água, sal e espuma. Vez por outra uma onda desgarrada, lava os pés em enxurrada bem mais quente que o ar, enche o corpo de energia, faz a pele toda vibrar.
O âmbar vira laranja, o verde vira azul, show de cores e nuances, coloridas a crayon. Estrela são engolidas na luz que já domina, das mais fracas às mais fortes. Já não vejo Orion. Some uma, depois outra, Sirus, Rigel, Aldebaran. Some Marte, resta só o brilho fraco da famosa Estrela D'alva, já cantada em prosa e verso, deusa do amor e da beleza, a rainha do universo, Vênus, o planeta feminino.
Ela e o sol, só dois astros restam lá no firmamento.
Bem ai, neste momento, dá vontade de alguém, companhia feminina, eu o sol e ela Vênus, vendo outro alvorecer, vendo a noite em metamorfose, vendo o claro e o escuro, vendo o mundo em cinza-chumbo, em marrom, em verde-musgo, em azul-alaranjado, em amarelo e dourado. Compartilhar cada instante, as sensações e pensamentos. Ou então só o silêncio.
Porém cada instante que passa revela o paradoxo, mostra como desejos podem ser só utopias. O que faz o sol ser tão forte também o transforma na pior das companhias: feito para ter luz própria, feito pra ter brilho farto, fulgir mais do que tudo, foi feito pra brilhar sozinho.
Logo logo, dia claro, sol brilhando com força, bem acima do horizonte. Certamente é o fim da alvorada. Não há nem sinal de estrelas, de Júpiter, de Marte, de nada. O curto romance com Vênus agora é coisa do passado. E lá segue ele, no céu, brilhando por mais outro dia , imponente, auto-suficiente, sozinho e solitário.
Otário...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Cataratas num barril

(21/07/09)

Quero ir às cataratas num barril
Mergulhar na água fria
Me deixar ser carregado
Pela correnteza do rio
Dilacerado em pedras soltas
Esquecer do mundo todo
Como se já fosse senil

Cataratas num barril

Vida de desenho animado
Com a mente pueril
Descartar a baboseira
A lógica, o pensamento
A tristeza
Em um delírio febril
Arriscar pelo prazer
De ter a vida por um fio

Cataratas num barril

Flutuar até a cascata
Despencar pela beirada
Frio no estômago
Grito alto
Mando as regas deste mundo...

Cataratas num barril!!!

Circo

(21/07/09)

Mais um dia, mais uma ressaca
Olho em volta
Parece que todos são felizes
Ou será que o mundo é repleto de bons atores
E só eu vim na pele de crítico?
Vida, eu quero mais
Eu quero TUDO!
Em resposta, a vida passa
Sem graça
Sem viço
Sem passo
Sem nada
Só passa...

sábado, 11 de julho de 2009

Em meu peito

(11/07/09)

Você recostada em meu peito
Luz na janela
Luz no teu rosto
Claro, calmo, cálido
Que dorme tranquilo
Riso satisfeito
Cheiro de chuva
Cheiro de café
De bolo de chuva
Torrada com doce e manteiga
Sabor de vinho
De pão de ameixa
De férias de julho
De festa na roça
De banho de chuva
De estrada deserta
Correr pela praia
Do sono que chega
Da noite acabando
Começo de um dia perfeito:
Você recostada em meu peito

Aladina

(09/07/09)

Como um gênio da garrafa
Três desejos, minha princesa
A você eu concedi
Pra usar como quiser
Com toda sabedoria
Ou então toda loucura
Cê que sabe
Vamos lá!

Se pedir com jeito certo
E retribuir com algum afeto
Outros três, tenho certeza
Logo posso lhe arranjar
E se eu gostar mesmo de si
Se você me agradar
Ao quadrado elevarei
Pois que sejam: trinta e seis!

Peça logo, eu te peço
Peça apenas um por vez
Um que leve o dia todo pra poder realizar
Assim tenho mais tempo
Pra ficar mais ao seu lado
Faça as contas:
Mais que um mês

Mas se retribui com carinhos
Os meus sonhos e vontades também quer realizar
Se for doce e solidária
Der afeto e amparo
Se concede mil desejos
E adivinha meu pensar
Serei eu o seu amigo
Seu amante, seu consorte
O seu servo e escudeiro
O seu amo e seu escravo
O que quiser e mais além
O seu gênio a vida toda
Para todo sempre. Amém!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Per parlare di amore

(16/06/09)

Eu passei quase um ano
Estudando italiano
Pra dizer-te, ma querida
Como gosto de você

Pra dizer que nos teus olhos
Eu vislumbro poesia
Pra adorar o chão que pisas
Venerar-te cara mia

Pra dizer-te mil carícias
Sob a forma de palavras
No idioma dos amantes

Decorei toda a cartilha
E hoje digo com certeza
“Il libro è sulla tavola”

terça-feira, 9 de junho de 2009

Soneto a um soneto

(10/06/09)

Seja pois o meu soneto
Meu poema inacabado
Em meu mundo branco e preto
Seja as cores do meu fado

Seja o livro escolhido
Para a minha cabeceira
Cada linha, decorar-te
Não só hoje, a vida inteira

Deixa ser o teu poeta
Burilar-te e, finalmente
Ir prostrar-me aos teus pés

Mas preciso do teu nome
Diga logo, te suplico,
Me sussurra quem tu és...

Como livros

(09/06/09)

Umas são só rodapé
De uma imensa e árida brochura
Outras talvez um parágrafo
Com alguma sorte, um capítulo
Outras não passam de um mero artigo
E ainda por cima, indefinido

Algumas, porém, são danadas
Recebem título, prefácio e índice,
Analítico e remissivo!
Guardadas com todo carinho
Na estante, em destaque
No foco, na luz, bem no meio
Pra estas, um volume inteiro

domingo, 7 de junho de 2009

Uma mísera linha

(07/06/09)

Tu que fostes um dia
A musa de mil poesias
Não hoje já não representas
Nem uma mísera linha

My fair Lady

(07/06/09)

Quem dera ter te encontrado
Apenas alguns meses mais cedo
Olhar-te fundo nos olhos
Checar se és mesmo real

Saber tua vida, o passado
E o que tu esperas daqui pro futuro
Saber alguns sonhos
Prever pensamentos
Deitar-me ao sofá do teu lado
Olhar teu sorriso matreiro

Quem dera envolver-te em meus braços
Quem dera pegar-te no colo
Quem dera beijar tua boca
Mais tarde tocar o teu corpo
Formar um conjunto perfeito:
Minha mão, teu rosto e cabelos

Quem dera...

Quem dera ser tu bem mais que um nome
Ser tu bem mais que uma foto
Ser tu bem mais que uma sombra
Que hoje percorre minha mente
Que hoje habita meus sonhos
E somente intitula-se Lady

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Elas

(03/06/09)

Beatriz, Veronica, Deise
Elizabeth, Barbara, Denise
Bete, Lúcia, Kátia
Cristina, Rosane, Cristiane
Telma, Filomena, Aparecida,
Elisete, Claudete, Margaret
Angela, Marcia, Regina
Luceli, Bianka, Neusa
Cris, Sumaia, Cida
Madalena, Ana, Poliana
Niedja, Milena, Cintia
Mirian, Teresa, Glaucia
Isabel, Isabela, Mirela
Inês, Claudia, Marisa
Rosana, Suzana, Suzane
Gabriela, Nilda, Tatiana
Débora, Renata, Adriana
Tanismari, Vanessa, Ana Lúcia
Raissa, Juliana, Carol
Flávia, Andreia, Simone
E outras que já nem sei o nome

E tudo que se queria
Era o amor de Maria

terça-feira, 19 de maio de 2009

Maria

(18/05/09)

Maria mulher
Maria que pare,
Porém não embala
Maria que ensina
Ensina a temer, não ensina a amar
Maria que nutre
A um, a dez, a todos, esquálidos, imundos
Maria generosa
Que divide o cuidado
Divide a miséria
Mesmo quando nada há para dividir
Maria temente,
Daquilo que teme, nos torna descrentes
Maria esposa
Esposa devota de um deus sobre a terra
Do grande modelo, do senhor da guerra
Esposa ingrata
Maria do não
Maria que hospeda
Do não aconchego
Da água, do frio, do medo
Maria censura
Maria clausura
Maria tratante
Maria impostora
Maria indulgente
E intolerante
Maria egoista
Maria do pouco
Que muito exige
Que não nos dá nada...

Maldita Maria!

.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Amor verdadeiro


(05/05/09)

Velho Lobo, solitário
Noite alta, brilha a Lua
Bem mais velha,
Tão mais nova, tão mais bela
Toda branca, talvez ambar ou amarela

Uiva o Lobo
Brilha a Lua
Uivo triste, brilho pálido
Monossilábico e polifônico
Afável, frio e cálido

Bruma azul, de cinza e verde
Enche a noite de magia
Veste o Lobo cor de prata
Lá no alto da colina

Pede o Lobo:
Me ensina,
Dá-me o dom de flutuar
Quero estar ai, contigo
Permita-me ser teu par

Em silêncio, complacente
Quase ouve-se o sussuro:
Lindo Lobo solitário
O meu par tu sempre fostes
O meu par sempre serás

Eu sou bicho, tu és astro
Eu e ti tão diferentes
Como posso eu te amar?

Só tu sabes se me amas
Se é sincero o que tu sentes
Mesmo Lobo e eu Lua
Se o amor é verdadeiro,
Com certeza, já sou tua
E mesmo que eu não queira
Serei tua para sempre

sábado, 2 de maio de 2009

Sombras ao entardecer

(02/05/09)

Hoje pensei em você
Sem razão ou motivo aparente
Sem querer
Assim mesmo, de repente
Cabelo loiro,
Jeito maroto
Jeito inocente
Os olhos, o olhar, o sorriso
Sua voz...
Não sei porque,
Mas hoje pensei em você
Do mesmo jeito que veio, de repente esvaneceu
Esvaiu, esvaziou-se
Foi-se
Mais uma sombra na luz suave do entardecer.

Mudanças

(02/05/09)

Passam-se minutos
Passam-se horas
Passam-se dias

Continentes se afastam
A Lua, impassível no céu
Também muda, imperceptível
Discreta e constante
Cada dia mais longe

As pessoas mudam
Se mudam
Se apaixonam
E casam

O passado é apagado
Juras de amor esquecidas
Mágoas, talvez nem tanto
E a vida continua
Nua, crua, cruel

Um dia, o homem da sua vida
Será só um homem,
Nem isso, quem sabe
Ali parado,
Ali sentado
Sozinho, desapaixonado
Esperando algo acontecer
Esperando a vida mudar
Esperando o amor que virá
Esperando a morte chegar

terça-feira, 28 de abril de 2009

E agora você

E agora você
Renasce das cinzas
Chega toda prosa
Usando sua voz macia
Sussurra de novo no ouvido

E agora você
Como se nada eu houvesse passado
Como se já não fosse errado
Vem em mensagens ocultas
Meus sonhos atormentar

E agora você
Cria outra vez o enigma
Que a alguns anos atrás
Tirava-me as noites de sono
Fazendo-me enlouquecer

E agora você
De volta, fazendo propostas
Novas formas de dizer
As mesmas meias palavras
Induzir ao erro
Inspirar o devaneio

E agora você
E agora?
Enfim lhe pergunto
Pra que?

Pesadelos

Eu hoje gritei o seu nome
Grito surdo, grito fraco
Que nem mesmo eu pude ouvir
Resgate remoto do passado
Rasgado, roto, ultrapassado
Vi sua imagem no vestíbulo
Refletida no espelho
No meu quarto,
Debruçada em minha cama
Desbotada, apagada
Como o toque de um cadáver
Felizmente acordei.

Aeroporto solidão

(30/03/09)

Chego enfim
Outro aeroporto
Olho em volta
Ninguém me espera
Muitos rostos lá na porta
Bem sei, não conheço nenhum
Todos rindo, ansiosos
Mas nenhuma alegria
Nenhum dos seus sorrisos
Foi destinado a mim
Pego a mala
Vou saindo
Ilusão
Procuro na multidão
Qualquer rosto que conheça
Um amigo, um parente
Qualquer um, qualquer acaso
Mesmo que coincidência
Acho olhares que desviam
Ansiosos, sorridentes
Procurando sobre ombros
Alguém mais, que não a mim
Saio ileso, sigo em frente
Dou a mim mesmo um “bem vindo”
Bem vindo, cidadão do mundo
Sem berço, sem casa
Sem abrigo, sem guarida
Sê bem vindo ao teu destino
Sê bem vindo novamente
Ao Aeroporto Solidão

Turbilhão

( 30/03/09)

O abraço da mãe
O café na cama
A cara na lama
O amanhecer
Amanhã de manhã
Pelado na rua
Pisando na Lua
A sexta a noite
Domingo de tarde
Dormir e sonhar
Manhã de segunda
Só na madrugada
Amor de madrugada
Amor de namorada
Passada de mão
O surto de sorte
O tiro no escuro
O beijo de judas
O beijo da morte
O pomo-de-adão
Sabor do melado
Sabor do vinagre
Sabor do sabão
Imagem do filho
Saudades de casa
Risada de irmão
A brisa no rosto
O cheiro de ovo
Morrer sem razão

Quase Gêmeas

( 30/03/09)

Rio muito com o riso
Riso fácil, riso solto
Faço graça, mesmo humor
Eu e ela
Dia e noite,
Madrugada
A conversa
Mil assuntos
Até mesmo sem palavras
Eu e ela
Muitas vezes
Sintonia, pensamento
Uma só conexão
Se transforma
Multiplica
Se transmuta: Atração
Em um toque
Energia
Contagia
Eu e ela
Sob a lua
Sob o sol
Com a Bia
Eu e ela
Sem pudor

Mas um dia ela parte
Sem aviso
Foi-se embora
Foi pra longe
Salvador

Mas no fundo
Não importa

Pois não importa onde tu andes
Ainda levo-te na mente
Dentro d'alma
Pelo corpo
Desde já e para sempre
Debaixo do cobertor

Mulher ideal

(25/12/08)

Mulher, pra mim, tem que ser linda!

Linda, mas não convencida

Ah, e escultural!
Escultural sem ser metida

Ser vaidosa, sem ser narcisista
Inteligente, sem ser intelectualóide
Disciplinada, mas não nazista

Culta, mas não pedante.
Ter um bom papo, sem ser tagarela
Saber ouvir, mas sem atenção flutuante

Esportista, sem ser obcecada
Trabalhadora, sem ser viciada
Alegre, sem ser escrachada
Bem humorada, sem ser debochada

Um espetáculo na cama, sem ser profissional
Ser desinibida, mas não ninfomaní­aca

Ser nova, com conteúdo
Madura, mas não caduca
Ousada, sem ser maluca

Responsável, sem ser chata
Companheira, sem ser grudenta
Carinhosa, mas não pegajosa
Equilibrada, sem ser entediante
Metódica, sem ser irritante

E é claro, milionária...
Sem ser pão-dura...

É pedir muito?

Já sei, já sei, nem precisa responder...

Saco!!!!!

Segredos ao mar

(09/11/08)

Eu hoje contei,
Contei meu segredo,
Eu hoje contei meu segredo pro mar!

Do negro profundo, riscado de branco
Soprava, soturno, em suspiro, um sussurro
Ao manto da noite, suave acalanto

O hálito quente
A língua macia, morna, envolvente
Da areia, da água, da brisa do mar.
Propunha à alma acesso irrestrito
"Vem, vinde a mim
Que em meus braços
Hoje irei te embalar"

Pairava no ar, em seu reino noturno,
O disco de prata da face da lua
Pintando no céu, o seu véu, semi-nua,
Nuances de cinza, de verde, de azul
Com toques vermelhos, talvez de lilás

Foi neste momento,
Contei meu segredo
Foi quando eu contei meu segredo pro mar!

Enchi bem o peito
Gritei em silêncio
"Escuta o que digo
Difunde, ao mundo
A todo aquele que em ti tocar
Que aqui em tuas margens
Aguardo ansioso
O alguem a quem sou
Destinado a amar"

Partida

(23/10/08)

Deixar tudo para trás
Apagar a luz
Fechar a porta

Viro, encaro o passado
Anos pairando no ar
Cheiro do mofo da vida
Facho de luz na poeira
Fantasmas, lembranças de um lar

Uma vida
O aperto da incerteza
O sorriso do desafio
Espectativa

Parto agora!
O que me aguarda?
De certo, logo saberei

Apago a luz
Fecho a porta
Levo tudo comigo
Nada fica pra trás

Meu querido diário

(01/10/08)

18 de março
Comprei um pernil enorme para comemorar o meu aniversário. Vou prepará-lo conforme uma receita por mim criada e comê-lo inteirinho, afinal de contas, eu mereço.

23 de março
Hoje estava na cozinha preparando um sanduíche de pernil com maionese e cebola, quando tive a nítida sensação de estar sendo observado. Olhei em volta e não vi nada diferente na casa, exceto o meu cachorro esperando que alguma migalha de pernil caisse do prato.
Vou para a cama encafifado e com um naco de pernil no dente entalado.
Amanhã vou ter que comprar fio dental.

24 de março
Aconteceu de novo! Tenho certeza que alguém me espiona quando entro na cozinha.
Desta vez nem o cachorro estava por perto. Acho que algum vizinho deve estar me olhando de binóculo ou instalou uma câmera escondida. Sei disso porque assisti àquele filme “Invasão de privacidade” e sei do que as pessoas são capazes.
Amanhã chamo alguém para dar uma olhada.
Fiz um outro sanduíche de pernil e dei um pedação de pernil pro cachorro.

26 de março
Hoje veio um técnico que olhou a casa toda e disse não ter encontrado nada. Pelo sorriso dele, acho que está envolvido em alguma conspiração da qual sou alvo.
Por via das dúvidas vou olhar eu mesmo amanhã.
Faz dias que eu só como sanduíche de pernil, mas que se dane! Tá gostoso.
Estranhamente o cachorro recusou o pernil.

27 de março
Vou ter que adiar a minha investigação por um dia ou dois.
Há algo de podre no reino da Dinamarca: Eu e o maldito pernil!!!
Cachorro esperto...

28 de março
Desmontei todos os lustres e interruptores da casa. Não encontrei nada de anormal.
Lembrete para uma próxima aventura no reino de Edson: desligar a energia antes de sair puxando fios elétricos: choques e curtos-circuitos não são agradáveis.
Por via das dúvidas pintei os vidros da casa de preto.
Amanhã vou ter que comprar um microondas novo.

1º de abril
Tava instalando o microondas e tive a sensação de estar sendo observado de novo. Quando olhei em volta: POFF!!!
Lá estava!!!
Um vulto!!!
Eu vi!
Tenho certeza que vi!
Gritei durante uns três minutos. Não sei se de medo ou se de dor. O “POFF” foi o microondas caindo no meu dedão.
O vizinho de baixo reclamou. O porteiro interfonou. Com medo de passar por maluco aleguei problemas domésticos. O porteiro deu uma risadinha e pediu pra maneirar o volume da suruba.
Onde eles conseguem estes porteiros? Numa escola de comediantes, com certeza.
Suruba... quem me dera.
Maldito porteiro...

7 de abril
Hoje eu vi!
Nitidamente!
Um homenzinho com não mais do que trinta centímetros de altura, todo vestido de verde, com gorrinho e tudo.
Estava na cadeira da mesa da cozinha, discretamente me observando. Quando eu olhei para ele ele pulou da cadeira e correu pra debaixo do armário.
Pensei em correr atrás para ver onde ele se escondeu, mas o pavor foi maior e acabei correndo mesmo na direção contrária. Tropecei no cachorro.
Amanhã vou ter que comprar uma TV nova. Aproveito e compro aquela LCD que eu tô namorando faz tempo.
Lá se vai o dinheiro da poupança.
Maldito cachorro...
O vizinho reclamou de novo.

9 de abril
Hoje eu vi o homenzinho de novo. Foi apenas por um momento, mas pude vê-lo perfeitamente. Um homenzinho em miniatura. Bonitinho. Vestindo uma roupinha de duende.
Mas não quero chamá-lo de duende. Prefiro chamá-lo de amiguinho verde. Amiguinho porque ele me pareceu amistoso.
Amanhã vou tentar fazer amizade. Vou fazer e oferecer para ele a minha outra especialidade culinária, além do sanduíche de pernil: bolo de fubá.

16 de abril
O meu amiguinho verde não apareceu mais.
Fiz o bolo de fubá e me preparei para recebê-lo, mas ele não deu as caras.
Faz uma semana que eu só como bolo de fubá: a receita que eu tenho é meio exagerada. Tô até amarelo de tanto fubá.
Nunca mais quero ver bolo de fubá na vida!!!
Maldita receita...

17 de abril
Meu amiguinho verde apareceu de novo. Estava mais amistoso e sem medo. Até acenou para mim de longe.
Parece até que o desgraçado esperou o bolo de fubá acabar pra dar as caras. Pensei em oferecer o pernil, mas achei melhor não.
Acenei de volta. Ele me pareceu ir embora satisfeito. Fiquei satisfeito também.

19 de abril
Meu amiguinho verde apareceu de novo. Falei “oi” pra ele e ele me respondeu com um simpático “olá”.
Estabelecemos um rápido diálogo e ele me informou que reside em uma dimensão paralela e reduzida do nosso mundo, cujo portal fica dentro da gaveta de talheres do meu armário de cozinha.
Achei interessante, mas não entendi o porquê do tal portal ser na gaveta de talheres. A de panos de prato é tão mais fofinha. Bom, sei lá! Coisas de duende. Ou melhor, de amiguinhos verdes.
Convidei-o para assistir TV comigo amanhã.
Amanhã vou comprar pipoca de microondas.
Depois disso a gaveta de talheres deu pra emperrar.
Maldita gaveta...

20 de abril
O meu amiguinho verde apareceu no horário combinado. Ofereci pipoca. Ele comeu quase três pacotes. Eita carinha esganado!
Assistimos Peter Pan. Ele ficou indignado por ser o modelito do Peter uma cópia fuleira da roupa que ele usa. Também ficou cheio de graça com a Sininho. Esganado e tarado!!!
Perguntei se havia mais amiguinhos de onde ele vem. Ele disse que sim e que amanhã me apresentaria aos seus amigos. Mesma hora, mesmo local.
Mal posso esperar!!!
Amanhã vou fazer compras pra poder oferecer um lanchinho. Tô “durango” por causa da LCD, mas jogo no cartão.
Maldito capitalismo...

21 de abril
Eles vieram. Cerca de dezesseis amiguinhos. Todos tem exatamente a mesma cara. A única forma de diferenciá-los é pela cor da roupa. Cada uma de uma cor.
Vou ter que chamá-los de amiguinhos coloridos. Pode pegar mal, mas não quero nem saber. Eles nunca assistiram TV mesmo.
Pediram pra por o filme do Peter Pan de novo.
No começo se comportaram, mas depois de dez minutos de Sininho o negócio virou zona. Tentei impor respeito, mas eles ficaram me sacaneando. Entrei no clima.
Foi engraçado, mas o vizinho reclamou de novo.

28 de abril
Faz uma semana que estes maluquinhos aparecem sempre no mesmo horário por aqui.
A única coisa ruim é que eles comem pra caramba. Tentei empurrar o pernil, mas sem chance.
Propus fazer um bolo de fubá e eles riram da minha cara. Eu também não comeria.
A algazarra continua. Hoje brincaram de jóquei de cachorro.
A casa tá um nojo.
O vizinho reclama todo dia.

9 de maio (aproximadamente)
Estes desgraçados não se dão nem mais ao trabalho de ir embora. Ficam dia e noite por aqui. E o pior é que eles quase não dormem.
Tô acabado, mas hoje, finalmente eles me deram uma trégua: vão ir a uma despedida de solteiro do amiguinho cor de rosa... Sei...
Amanhã, se eles voltarem, vou propor a gente rachar a despesa do Apê. Afinal eu já tô pra lá de quebrado e isso aqui tá precisando de uma faxina urgente.

10 de maio (segundo meu mapa astral)
Eles voltaram. Propus um “meio-a-meio” na despesa e rolou o maior “box”. Quebramos o maior pau e eu joguei na cara deles que eles eram um bando de aproveitadores e folgados.
Eles não tão mais falando comigo.
O cachorro se enfiou no banheiro e não sai de lá pra nada, nem pra comer.
O vizinho ameaçou chamar a polícia.
Maldito vizinho...

15 de maio ou 4 de julho, sei lá
A situação fugiu um pouco ao controle:
Pus todo mundo pra fora. Lacrei a gaveta de talheres com fita crepe. Sai pra comprar material de limpeza pra casa e contratar um psicólogo pro cachorro.
Não é que os desgraçados voltaram durante a minha ausência e não me deixaram entrar em casa?
Esmurrei a porta aos berros durante vinte minutos.
O vizinho apareceu e começou a me agredir. Apliquei-lhe um cristel com a mangueira de incêndio.
Fui parar na delegacia. Tentei explicar pro delegado a história dos meus amiguinhos coloridos e ele me olhou meio esquisito.
Acho que ele também está envolvido na conspiração. Se ao menos eu tivesse o meu pernil aqui eu o mataria envenenado
Maldito delegado...

Diário de bordo - Data Estelar 83269.33
Acabei internado em um manicômio judiciário, acusado de atentado violento ao pudor e sodomia.
No julgamento convoquei como testemunhas de defesa os meus amiguinhos coloridos e o cachorro, mas eles nem se deram ao trabalho de aparecer.
Depois de dois meses aqui internado, o meu amiguinho verde apareceu pra uma visita.
Agora toda a quarta-feira, no horário de visitas ele aparece por aqui e me trás notícias lá de casa, do seu mundo, da gaveta, dos outros amiguinhos coloridos, do cachorro e do pernil.
E como aqui eu não tenho nenhuma refeição decente, em toda visita ele me brinda com guloseimas. O único senão é que o filho da puta cismou que eu gosto de bolo de fubá e só me trás essa porra pra comer. Eu não aguento mais tanto fubá.
Já reclamei com ele, com a direção, com o diabo... mas ninguém me dá ouvidos...
Maldito duende!!!

Peixes

(01/10/08)

Como um peixe
Sem aviso
Na tua rede enroscado
Indefeso e complacente
Como obra do acaso
Tua vida vai mudar

Encantada com a beleza
Com a doçura, com a pureza
Toda sorte de fineza
Com certeza o adotarás

Se revela um ente mágico
Um Netuno, Posseidon
Que contempla mil desejos
Satisfaz tua vaidade
Tua libido, teu prazer
Quase tudo que tu pedes
Quase lê a tua essência
Vê? Completa tua existência
Teu almoço e teu jantar

E lá no fundo, tu, faceira
Tem-se a última e a primeira
Deste ser maravilhoso
E resolves, pobre incauta
Tua alma lhe entregar
Fazer planos, o futuro
Um “felizes para sempre”
Tua vida, teu altar

Não te ocorre, num momento
Questionar a sorte grande
Perguntar à cartomante
Se és tu dona da rede
Ou, em um truque ilusionista,
Se apenas nela estás?

De repente, minha princesa
Toda sorte de certeza
Como um castelo de areia
Na tua frente vai ruir
Como um peixe, esse peixe
Logo ganha a correnteza
Do riacho ao rio, o mar

Como um peixe vai embora
Sem motivo aparente
Para águas mais profundas
Para nunca mais voltar

Memórias

(13/09/08)

Pelado, certamente
Um pé, um pedal, um tanque
Um beijo de cachorro e um medo descontrolado
Só por causa de um balão corre, escorre,
quase morre quando rola pela escada
Mil pedaços, mil retalhos, chão coberto, biribinha
Um chinês em plena sala, mancha o teto, engraçado
Avenida, inocente, sai correndo, atropelado
Coça muito, chora muito, quando a perna pula só
Do amigo já não lembro, será Alvim, nada a ver
Escondidos, o menino e a menina,
A doente, o doutor, piaçava, injeção
Um porão com bela vista
Nova casa, degrauzinho, banco tosco, diversão
Dá ferrugem na parede
Homem-aranha, tostãozinho
Montes, ninhos, passarinhos com cheiro de sinusite
Carro branco, casamento, pão-de-queijo, gostinho de quero mais
Corre, pula, malabaris, um pescoço entortado
O barbeiro incompetente, costeleta, kung-fu, solução tão descabida
Outra, tão tola quando a outra, solução pra valentão
No bolso uma coca-cola, na mão o salgadinho, de verniz, com cristalzinho
Um tumulto, cheiro bom, nasce e morre na vontade, um enorme sanduiche
O dinheiro às vezes banca, vez em quando, vez por outra, um pilantra no recreio
Vai pra banda, diversão
Desde cedo cobra muito, desempenho, atuação
Sempre pronto, apaixonado, mas de fato um “cagão”
De joelhos pede o pé, sente orgulho, ser capacho
Sente medo, musiquinha do biscoito, trocadilho, vil, do coito
Medo também da altura, uma só vez se esvai
Vê na sombra o alter-ego, aquele que nunca será
Solidão, ouve a matilha, o calor, talvez sábado, uma manhã
A tristeza, telegrama, pinta o beijo, muitos anos de amasso, muito tempo com cabaço
O momento prometia uma realização, trouxe raiva, trouxe ódio, trouxe muita confusão
Vai pro mato, divertido, conta história, quase um Gump
Tá feliz, mas não sabia, doido pela confusão
Muito tempo, letargia, uma gota, revolução
Namorado a marido, rolo todo, separado
Já sozinho, enrrolado, vira para todo lado
Sente às vezes estar correndo
Já perdido, urso pardo
Perseguindo o próprio rabo

Nossos sonhos

(19/08/2008)
A pior situação com que podemos nos deparar é a de ter todos nossos sonhos realizados. Não nos sobram desculpas para continuarmos sendo infelizes...